O Poder do Escorpião!
O signo de Escorpião é talvez o signo mais "mal-afamado" do zodíaco. A intensa profundidade emocional da vibração escorpiónica inspira-nos receio e cautela e não é sem razão. O Escorpião não opera à superfície, mas antes mergulha profundamente nos recantos mais sombrios da nossa alma, em busca do que está escondido, do que não é revelado ou assumido.
Receamos o Escorpião pois ele expõe e revela a nossa sombra - o seu faro instintivo depara-se facilmente com os esqueletos que enterrámos no armário mais profundo do nosso inconsciente. Tudo aquilo que negamos acerca de nós próprios, os nossos medos e inseguranças, tudo aquilo que classificamos como mau ou impróprio, toda a culpa e remorso, constituem o território do Escorpião. Daí portanto a sua má-fama, de signo perigoso e maléfico.
Mas outro facto inegável acerca da vibração escorpiónica é a atracção magnética e o fascínio que suscita. Esta capacidade de aceder ao inconsciente, ao reino do oculto, manifesta um tremendo poder. E é fácil sermos seduzidos pela ideia de que, controlando esse poder, seremos capazes de obter domínio sobre tudo aquilo que poderá ameaçar a nossa segurança.
O poder do Escorpião é o poder da transformação e transformar é um processo difícil e quase sempre doloroso - é uma verdadeira experiência de morte. Queremos controlar este poder para evitarmos o seu efeito transformador e mantermos a estabilidade e segurança da nossa zona de conforto. E é precisamente aqui que surge a raiz do mal: na procura de usar este imenso poder de transformação para, ao invés, resistir ao desenvolvimento natural da vida, por medo do desconhecido, por apego ao que possuímos e construímos, por dificuldade em aceitar a separação daqueles a quem estamos ligados… Já dizia um grande mestre: "Fear is the path to the dark side. Fear leads to anger. Anger leads to hate. Hate leads to suffering." (Yoda, 1980).
Assim como o Escorpião, o mal atrai, seduz, fascina… pois, como referimos, o mal surge daquilo que negamos e reprimimos em nós próprios e que secretamente perverte os nossos pensamentos e acções. E somos atraídos por ele para que o enfrentemos, para que iluminemos estes recantos sombrios da nossa psique e nos libertemos dos monstros que se alimentam dos nossos medos e inseguranças e que são tão mais poderosos quanto a nossa resistência em olhá-los nos olhos…
É o poder de Escorpião que nos permite empreender este desafio, de destapar o que está infamemente enterrado, de abrir os baús escondidos e os armários assombrados e trazer os fantasmas para a luz do dia. Este é o processo de transformação que Escorpião nos propõe: uma libertação através da morte - a morte daquilo que nos prende ao passado e nos impede de progredir e fluir com a vida. E através desta prova iniciática, renasceremos das cinzas, tal como a fénix.
O escorpião transforma-se em águia, trocando as profundezas do submundo, onde vivia prisioneiro no lodo do inconsciente, pela altitude dos céus de onde pode observar, com precisão cirúrgica, o desenrolar dos seus processos internos. E assim, cooperando sabiamente com as dinâmicas de transformação, a personalidade entrega-se ao desígnio da alma e ao seu percurso de evolução.
É interessante notar que, no zodíaco, o signo que sucede a Escorpião é Sagitário, um signo de fogo associado à sabedoria e à lei cósmica.
Todos temos acesso a esta vibração de Escorpião. Independentemente de termos, ou não, planetas colocados neste signo, algures no nosso mapa natal Escorpião ocupa uma casa, manifestando-se nas áreas de vida representadas por essa zona do mapa. A colocação de Plutão, co-regente de Escorpião conjuntamente com Marte, indica também onde teremos que lidar com esta proposta de transformação, aceitando alterar formas de pensar e agir, eliminando padrões obsoletos, abrindo caminho a novas vivências.
Se Plutão estiver ligado por aspecto a planetas natais, este processo alquímico de transformação torna-se imperioso e vital para a evolução do individuo naquilo que respeita às funções psicológicas simbolizadas por esses planetas. Para dar alguns exemplos, se Plutão estiver associado à Lua a proposta de transformação é ao nível emocional, se em aspecto a Mercúrio é ao nível do pensamento e da comunicação, se ligado a Marte, ao nível da acção e da afirmação do ego, ou, tratando-se de Vénus, ao nível das relações e dos valores pessoais.
Na altura, em que o Sol entra no signo de Escorpião, a meio do Outono, é sempre uma boa altura para libertarmos bagagens que já não nos servem e que só nos atrasam no caminho com o seu peso. É um bom momento para deitar fora velharias e arejar os armários, à medida que trocamos as roupas de verão pelas de inverno…
Jorge Lancinha
23 Outubro 2011