Gémeos: o Um que é Dois, que são o Três…
Como o nome indica, Gémeos são dois. Na mitologia clássica, são dois irmãos, Castor e Pólux, seres idênticos, espelho um do outro. Um é filho de Tíndaro, rei de Esparta, e outro de Zeus, soberano dos deuses. Um é mortal, filho do Homem, e o outro imortal de divina paternidade. Esta dualidade simbólica é presente em todos nós: somos Um, mas divididos entre o Céu e a Terra. Somos filhos da matéria enquanto corpo mas a nossa essência é espiritual. Mas, tal como no mito dos dois irmãos, é a ascendência divina que prevalece, resgatando da morte a sua contraparte terrena (perante a morte de Castor, Pólux partilha com este a sua imortalidade).
Da interacção entre dois princípios, surge um terceiro. E aqui temos esta sagrada matemática: o Um, que se desmultiplica no Dois, que produz o Três. O princípio espiritual de Carneiro, reflectido na materialidade concreta de Touro, encontra em Gémeos a síntese através da Mente. Gémeos é portanto o nascimento da Mente, uma mente ainda superficial, centrada no fluxo da informação.
É aqui a alvorada da Palavra. E com ela podemos nomear, falar, aprender… Gémeos tem fome de informação e sede de comunicar. Quer tudo saber, tudo abarcar. A sua mente é uma biblioteca de factos, de curiosidades, de pequenos apontamentos enciclopédicos. O seu saber é pouco profundo, naturalmente, mas extraordinariamente abrangente. E assim deve ser, neste estágio inicial, em que é preciso experimentar, testar, deixar a curiosidade tomar o leme da descoberta.
Mercúrio (Hermes) é o planeta regente de Gémeos. Deus das trocas e do comércio, das rotas e das viagens, ele é o mensageiro dos deuses. A sua função é estabelecer pontes e engendrar soluções nas quais a sua inteligência astuta e engenhosa sobressai. Mercúrio é extremamente multifacetado e versátil, ao ponto do mimetismo. Ele simboliza a mente geminiana, capaz de tomar a forma de tudo aquilo que toca. A forma, mas não a essência…
Apesar do imenso poder que a sua inteligência lhe concede, Mercúrio revela um carácter algo infantil nas suas motivações próprias, que não vão muito além da curiosidade e do gozo lúdico do puzzle mental. Ele está sempre presente, cumprindo tarefas essenciais, mas invariavelmente ao serviço de directivas superiores. E é de facto este o papel da mente racional/prática que todos possuímos: estar ao serviço da vontade superior do Eu, executando tarefas, estabelecendo ligações, comunicando, aprendendo. E quando digo do Eu, digo também do Projecto Colectivo.
O estágio de Gémeos concede ao Homem esta extraordinária ferramenta que é a mente. E o desafio, mais uma vez, é a integração: desenvolver o intelecto sem nos perdermos na sua engenhosa teia de simulacros.
Jorge Lancinha
21 Maio 2012