O Poder Real do Leão
É quando estamos no auge do Verão que é chegada a hora do Leão! É a altura do ano em que o Sol brilha com mais intensidade e irradia o seu máximo calor (no hemisfério norte).
Leão é o segundo signo de Fogo, e representa simbolicamente a consolidação da personalidade individual e a manifestação do poder divino através do Eu.
Os signos do zodíaco são na sua maioria representados por animais e verifica-se uma clara correspondência entre a natureza do animal e o respectivo arquétipo que representam. O caso mais evidente é talvez o do Leão. Este extraordinário animal encerra em si a pura essência do signo que designa: magnânimo, nobre, ele é o rei da selva, o superpredador no topo da cadeia, o macho alfa em pleno domínio do seu território. O seu poder é aterradoramente feroz e simultaneamente pacificante na hipnótica serenidade interior que emana da sua indisputável primazia. Mesmo face à derrota nunca perde a sua nobreza, e como vencedor sempre respeita a dignidade do vencido. O Leão não abriga insegurança, não conhece hesitação, é puro brilho, e a única sombra que reconhece é a que se projecta dos outros face à sua imponência.
Partindo deste retrato do grande felino de juba, remetemo-nos então para o que o arquétipo leonino representa ao nível da personalidade humana e do seu desenvolvimento. No estágio anterior, de Caranguejo, o espírito liga-se intimamente à matéria através do vínculo emocional, possibilitando o nascimento, em Leão, de uma experiência existencial plenamente individual. É aqui que se consolida a agregação do Eu. Se Caranguejo é o cordão umbilical que nos liga às nossas origens, Leão é o umbigo - a marca do corte que nos inicia neste mundo como seres individuais. E é centrando-nos no nosso “umbigo”, que é como quem diz, na nossa própria vontade, que vamos desenvolvendo um campo gravitacional em torno do qual a personalidade se vai formando, amadurecendo e a partir do qual poderá funcionar como veiculo do Espírito e agente da Alma. Este centro é o que reconhecemos como o Eu, ou Ego.
Leão é regido pelo Sol, precisamente o centro do nosso sistema; a estrela em torno da qual todos os outros astros revolvem. É o seu poder gravitacional que sustenta a orbita dos planetas, qual rei que em torno de si mantém a corte de seus súbditos. Como uma fonte de inesgotável potência, o Sol é o coração pulsante que dissemina a luz e o calor essenciais à vida. Ele é o criador e o alimento. Olhá-lo directamente não é humanamente possível, o seu brilho fulgurante é demasiado intenso - como o Fogo do Espírito, que vamos conhecendo passo a passo através da luz reflectida na matéria das nossas vivências.
Por vezes, no nosso fascínio, somos tentados a voar demasiado perto do Sol, como Ícaro. Ou Faetonte, filho de Hélio, o deus do solar, que ao ter descoberto a sua divina paternidade se dirige ao palácio celeste de seu pai. Incrédulo a princípio, é tomado pelo orgulho e pede ao deus do Sol que lhe deixe conduzir a sua carruagem através dos céus. Hélio é o único capaz de tal tarefa, mas é obrigado por juramento a conceder o imprudente pedido a seu filho. Faetonte não consegue dominar o poder dos quatro cavalos que puxam a carruagem e manter o rumo preciso, causando extraordinária devastação. É Júpiter que intervém, fulminando com o seu poderoso raio a carruagem, precipitando o jovem incauto para uma queda fatal.
Todos somos filhos do espírito divino e carregamos dentro a sua potência solar, criativa, esplendorosa, capaz de trazer vida e alimento, mas para tal é necessário entender que o verdadeiro propósito da individualidade não é a autocracia, a arrogância, o orgulho, a ostentação. Para conduzirmos a carruagem de Hélio teremos que desenvolver um Coração de Leão e aceitar conscientemente o nosso papel na engrenagem maior da ordem universal. Só assim é possível reclamar a nossa herança divina de Criadores.
Jorge Lancinha
26 Julho 2012