Os Planetas no Cinema
Desde sempre que o homem recorre a histórias, lendas, mitos, como veículos de transmissão de sabedoria, como materialização simbólica das suas crenças e valores, como construção de estruturas internas que suportam e dão sentido à sua existência.
Hoje em dia é em grande parte o cinema que se encarrega de criar e transmitir para as massas a mitologia na qual se vai tecendo a nossa cultura. Apesar da banalização e desvirtuação que acaba por acontecer com tudo o que é massificado, a matriz arquetípica da psique humana acaba por se revelar em tudo aquilo que criamos. As personagens que povoam os filmes mostram-nos a face destes arquétipos que dão estrutura ao inconsciente colectivo.
Numa abordagem Humanista e Transpessoal da Astrologia, podemos tomar os Planetas como símbolos desses pilares da nossa estrutura interna. Assim, neste artigo vamos procurar conhecer um pouco mais destes arquétipos/planetas através de personagens de filmes.
Começando pelo Sol, ele é o centro do nosso sistema solar e paralelamente é símbolo do centro gravitacional da nossa personalidade, o Eu. Na generalidade dos filmes existe também uma personagem central, o herói da história. História essa que habitualmente é a narrativa do seu percurso de empowerment – da descoberta de si e do seu potencial. Vemos, por exemplo, esse desenvolvimento de forma muito clara na personagem de Neo na trilogia “Matrix” (1999). Esta figura central solar está muito ligada ao arquétipo do Rei, que vemos retratado em Aragorn no “Senhor dos Anéis” (2001), especialmente no último filme da trilogia “O Retorno do Rei” (2003), e também na figura de Arthur em “Excalibur” (1981) de John Boorman. Transversal a todos estes personagens é a especial singularidade do seu destino: eles são os escolhidos para liderar o seu universo rumo ao Cosmos, à Ordem, à Paz e à Justiça. É o que este Sol interno pede de nós: que descubramos as potencialidades criativas da nossa posição solar (signo, casa, aspectos) e as utilizemos no sentido de criar Ordem.
Numa abordagem Humanista e Transpessoal da Astrologia, podemos tomar os Planetas como símbolos desses pilares da nossa estrutura interna. Assim, neste artigo vamos procurar conhecer um pouco mais destes arquétipos/planetas através de personagens de filmes.
Começando pelo Sol, ele é o centro do nosso sistema solar e paralelamente é símbolo do centro gravitacional da nossa personalidade, o Eu. Na generalidade dos filmes existe também uma personagem central, o herói da história. História essa que habitualmente é a narrativa do seu percurso de empowerment – da descoberta de si e do seu potencial. Vemos, por exemplo, esse desenvolvimento de forma muito clara na personagem de Neo na trilogia “Matrix” (1999). Esta figura central solar está muito ligada ao arquétipo do Rei, que vemos retratado em Aragorn no “Senhor dos Anéis” (2001), especialmente no último filme da trilogia “O Retorno do Rei” (2003), e também na figura de Arthur em “Excalibur” (1981) de John Boorman. Transversal a todos estes personagens é a especial singularidade do seu destino: eles são os escolhidos para liderar o seu universo rumo ao Cosmos, à Ordem, à Paz e à Justiça. É o que este Sol interno pede de nós: que descubramos as potencialidades criativas da nossa posição solar (signo, casa, aspectos) e as utilizemos no sentido de criar Ordem.
Na distorção deste princípio encontramos a tirania que resulta dos complexos de inferioridade e da procura patológica do poder como compensação narcísica. Temos na personagem de Commodus em “Gladiador” (2000), um exemplo bem retratado da inversão do princípio solar: um filho que procura a aprovação do pai, mas que é preterido por este na sucessão ao trono; sentindo-se rejeitado assassina o pai e usurpa o poder, instituindo um reinado de medo, controlo e repressão de todos os que a si se opõem.
Apesar das personagens solares nos surgirem sobretudo como homens, pois estamos a falar de um arquétipo de carácter yang (masculino), este princípio é obviamente transversal à psique de ambos os géneros. Da mesma forma, no caso da Lua, encontramos sobretudo mulheres a encarnar este princípio yin (feminino). A Lua está relacionada com a capacidade de nutrir e proteger, com o sentido de pertença e a ligação emocional. Galadriel no “Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel”, é uma personagem que evoca magníficas qualidades lunares. Vemo-la aparecer na história num momento de desespero, em que a esperança dos heróis se começa a esvair, oferecendo um colo protector onde recuperar forças e restabelecer animo para os desafios que se avizinham. Perante ela todos se sentem desnudados pela sua capacidade psíquica: ela sente o que cada um guarda no seu mais íntimo. A todos ela acolhe no seio do seu imenso poder, como uma grande mãe.
Apesar das personagens solares nos surgirem sobretudo como homens, pois estamos a falar de um arquétipo de carácter yang (masculino), este princípio é obviamente transversal à psique de ambos os géneros. Da mesma forma, no caso da Lua, encontramos sobretudo mulheres a encarnar este princípio yin (feminino). A Lua está relacionada com a capacidade de nutrir e proteger, com o sentido de pertença e a ligação emocional. Galadriel no “Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel”, é uma personagem que evoca magníficas qualidades lunares. Vemo-la aparecer na história num momento de desespero, em que a esperança dos heróis se começa a esvair, oferecendo um colo protector onde recuperar forças e restabelecer animo para os desafios que se avizinham. Perante ela todos se sentem desnudados pela sua capacidade psíquica: ela sente o que cada um guarda no seu mais íntimo. A todos ela acolhe no seio do seu imenso poder, como uma grande mãe.
No lado sombra deste arquétipo podemos encaixar personagens como a Morgana de “Excalibur”: meia-irmã de Arthur, dedica-se à bruxaria e procura destruir o reinado deste através de manipulações e distorções. Consegue enfeitiçar Arthur e concebe com ele um filho que cria como arma destinada a aniquila-lo. Esta Morgana interpretada por Helen Mirren é uma verdadeira mãe-negra, diametralmente oposta à figura de Galadriel.
Em Mercúrio encontramos o arquétipo do mensageiro, aquele que estabelece as trocas de informação e faz as pontes entre o tempo narrativo e os vários espaços da acção. Na trilogia do “Senhor dos Anéis” temos uma excelente representação mercuriana nas personagens dos hobbits: Frodo, Sam, Merry e Pippin. São vários personagens, individualizados, mas funcionam num todo, intimamente ligados como irmãos, ligando também todos os outros personagens e o desenrolar da acção. A história é inclusivamente narrada por um hobbit: Bilbo. No fundo eles são o veículo pelo qual se transmite todo o conteúdo do filme. Estão sempre presentes mas não têm uma agenda própria, leves, curiosos, faladores, como crianças: tudo isto é Mercúrio! Vemos algo semelhante com os androides R2-D2 e C-3PO em toda a saga “A Guerra das Estrelas”.
Em Mercúrio encontramos o arquétipo do mensageiro, aquele que estabelece as trocas de informação e faz as pontes entre o tempo narrativo e os vários espaços da acção. Na trilogia do “Senhor dos Anéis” temos uma excelente representação mercuriana nas personagens dos hobbits: Frodo, Sam, Merry e Pippin. São vários personagens, individualizados, mas funcionam num todo, intimamente ligados como irmãos, ligando também todos os outros personagens e o desenrolar da acção. A história é inclusivamente narrada por um hobbit: Bilbo. No fundo eles são o veículo pelo qual se transmite todo o conteúdo do filme. Estão sempre presentes mas não têm uma agenda própria, leves, curiosos, faladores, como crianças: tudo isto é Mercúrio! Vemos algo semelhante com os androides R2-D2 e C-3PO em toda a saga “A Guerra das Estrelas”.
Na expressão distorcida de Mercúrio vamos encontrar o ladrão, o mentiroso, o ilusionista trapaceiro. O capitão Jack Sparrow em “Piratas das Caraíbas” (2003) ilustra bem esta faceta da sombra de Mercúrio, começando desde logo por se tratar de um pirata. Não sendo propriamente um vilão, mas sim até o herói da história, revela também desta forma o carácter de Mercúrio, na inversão e subversão do significado e da percepção da realidade.
Arwen, a princesa elfa em “O Senhor dos Anéis” é uma personagem que incorpora características muito venusianas: a sua beleza ímpar, a delicadeza e refinamento, o apelo do amor romântico e da relação. O seu papel na narrativa do filme é inspirar em Aragorn o que este tem de mais nobre, trazendo significado à sua existência através da busca de uma visão futura de paz e amor. Vemos também o mesmo tema na Guinevere de “Excalibur”, mas aí podemos desvendar um pouco da sombra de Vénus na relação desta com Lancelot, em que a tentação da paixão a leva a trair Arthur e desta forma cindir a ordem, paz e prosperidade construídas. Helena em “Troia” (2004), é também instrumento deste lado sombrio de Vénus, que leva Paris a raptá-la e a desencadear a guerra de Tróia.
Arwen, a princesa elfa em “O Senhor dos Anéis” é uma personagem que incorpora características muito venusianas: a sua beleza ímpar, a delicadeza e refinamento, o apelo do amor romântico e da relação. O seu papel na narrativa do filme é inspirar em Aragorn o que este tem de mais nobre, trazendo significado à sua existência através da busca de uma visão futura de paz e amor. Vemos também o mesmo tema na Guinevere de “Excalibur”, mas aí podemos desvendar um pouco da sombra de Vénus na relação desta com Lancelot, em que a tentação da paixão a leva a trair Arthur e desta forma cindir a ordem, paz e prosperidade construídas. Helena em “Troia” (2004), é também instrumento deste lado sombrio de Vénus, que leva Paris a raptá-la e a desencadear a guerra de Tróia.
Voltemos a “Excalibur” e à personagem de Lancelot para ilustrar Marte no seu máximo esplendor. O encontro entre Arthur e Lancelot é todo ele muito simbólico do arquétipo de Marte: vemos retratado um guerreiro de carácter nobre que assertivamente barra o caminho à passagem de Arthur desafiando-o. O desfecho deste confronto estabelece um laço de grande proximidade entre ambos: Lancelot coloca-se ao serviço do rei e Arthur nomeia-o seu campeão (sendo Arthur símbolo solar esta relação é um fantástico espelho da dinâmica Sol / Marte). Vemos também neste Lancelot surgir a sombra marciana: a paixão por Guinevere, que inadvertidamente acende ao confessar-lhe o seu amor, gera todo um conflito que simultaneamente procura evitar, ausenta-se sistematicamente e preferindo um caminho à margem dos seus pares (paixão descontrolada, passividade agressiva, individualismo e egoísmo).
Em “Troia” na figura de Aquiles encontramos também uma figura extremamente marciana, marcada pelo melhor e pelo pior dos traços marcianos: afirmação, assertividade, eficiência, foco, direcção mas também raiva, violência, descontrolo, vingança.
No caso de Júpiter poderemos olhar para as figuras de Gandalf e Saruman em “O Senhor dos Anéis”: ambos são seres de uma ordem sobre-humana e têm como papel guiar e proteger. São feiticeiros, o seu poder é mágico e dirigem a acção dos acontecimentos em função de uma visão que projecta no futuro ideais e valores. Galdalf é a sabedoria e a esperança que anima os heróis da história, enquanto Saruman é o mago negro que utiliza os seus poderes para corromper, manipular, subjugar e destruir em nome do poder e da supremacia.
Merlin em “Excalibur” é também uma figura claramente jupiteriana, assim como Ben Kenobi, o general jedi de “A Guerra das Estrelas” (1977).
Em “Troia” na figura de Aquiles encontramos também uma figura extremamente marciana, marcada pelo melhor e pelo pior dos traços marcianos: afirmação, assertividade, eficiência, foco, direcção mas também raiva, violência, descontrolo, vingança.
No caso de Júpiter poderemos olhar para as figuras de Gandalf e Saruman em “O Senhor dos Anéis”: ambos são seres de uma ordem sobre-humana e têm como papel guiar e proteger. São feiticeiros, o seu poder é mágico e dirigem a acção dos acontecimentos em função de uma visão que projecta no futuro ideais e valores. Galdalf é a sabedoria e a esperança que anima os heróis da história, enquanto Saruman é o mago negro que utiliza os seus poderes para corromper, manipular, subjugar e destruir em nome do poder e da supremacia.
Merlin em “Excalibur” é também uma figura claramente jupiteriana, assim como Ben Kenobi, o general jedi de “A Guerra das Estrelas” (1977).
Para ilustrar Saturno a personagem de Morpheus em “Matrix” parece-me muito adequada: o seu estilo executivo e sério, de uma verticalidade inabalável que ao mesmo tempo que nos revela a crua realidade dos factos transmite uma segurança e confiança estruturantes. Ele é o grande mestre de Neo, o herói solar, mas não um mestre mágico e expansivo como Gandalf. O grande desígnio de Morpheus é levar Neo a assumir a responsabilidade do seu papel.
A sombra de Saturno é grande e pesada e vemo-la retratada na “Guerra das Estrelas” na negra figura de Darth Vader, principalmente no episódio IV da saga, o primeiro a ser lançado. Aqui temos uma figura imensamente poderosa, apostada em instituir uma ordem autoritária, fria, implacável e desumanizada. O exército de clones não individualizados, e como ele próprio sem rosto, submetidos a uma hierarquia rígida onde o erro é punido severamente, não são mais do que uma extensão do seu distorcido desígnio de ordem através do controlo absoluto.
E chegamos aos planetas transpessoais. Úrano é muito visível na personagem de V em “V de Vingança” (2005). A máscara que usa, transforma a despersonalização mecânica que vemos no exército de clones da “Guerra das Estrelas”, numa arma de afirmação individual dentro das massas, unindo-as como um todo em liberdade. A sua genialidade excêntrica, que roça a loucura, o recurso aos explosivos e às tecnologias de informação são muito simbólicas da acção de Úrano.
Nestes arquétipos transpessoais é ainda difícil destilar a sua luz da sua sombra. Quando actuam na nossa vida trazem desafios que muitas vezes ultrapassam a nossa compreensão. É o caso da Oráculo em Matrix. Esta personagem, que identifico muito com Neptuno, está para lá dos nossos conceitos de bem ou mal, luz ou sombra. Ela faz parte da inteligência artificial inimiga da humanidade mas ajuda Neo no seu percurso pois vê mais à frente: enquanto as duas facções batalham entre si ela procura a sua união. Vemos na Oráculo uma visão mística e uma concepção do tempo e do espaço que nos leva para territórios desconhecidos.
A sombra de Saturno é grande e pesada e vemo-la retratada na “Guerra das Estrelas” na negra figura de Darth Vader, principalmente no episódio IV da saga, o primeiro a ser lançado. Aqui temos uma figura imensamente poderosa, apostada em instituir uma ordem autoritária, fria, implacável e desumanizada. O exército de clones não individualizados, e como ele próprio sem rosto, submetidos a uma hierarquia rígida onde o erro é punido severamente, não são mais do que uma extensão do seu distorcido desígnio de ordem através do controlo absoluto.
E chegamos aos planetas transpessoais. Úrano é muito visível na personagem de V em “V de Vingança” (2005). A máscara que usa, transforma a despersonalização mecânica que vemos no exército de clones da “Guerra das Estrelas”, numa arma de afirmação individual dentro das massas, unindo-as como um todo em liberdade. A sua genialidade excêntrica, que roça a loucura, o recurso aos explosivos e às tecnologias de informação são muito simbólicas da acção de Úrano.
Nestes arquétipos transpessoais é ainda difícil destilar a sua luz da sua sombra. Quando actuam na nossa vida trazem desafios que muitas vezes ultrapassam a nossa compreensão. É o caso da Oráculo em Matrix. Esta personagem, que identifico muito com Neptuno, está para lá dos nossos conceitos de bem ou mal, luz ou sombra. Ela faz parte da inteligência artificial inimiga da humanidade mas ajuda Neo no seu percurso pois vê mais à frente: enquanto as duas facções batalham entre si ela procura a sua união. Vemos na Oráculo uma visão mística e uma concepção do tempo e do espaço que nos leva para territórios desconhecidos.
Chegando a Plutão estamos já profundamente no reino do imaterial. Sauron em “O Senhor dos Anéis” é sem dúvida uma figura plutónica. Como Plutão ele é invisível, uma força incorpórea que, excepto numa breve passagem no início do filme, é sempre representada de forma simbólica. A sua acção ganha forma através daqueles que são atraídos pelo seu poder. Poder esse tão superior a todos os outros que a personagem que o poderá destruir é a mais pura e inofensiva: Frodo. Todas as outras ou caem sob o seu domínio como Sauruman ou sabiamente recusam a tentação do poder do anel como Gandalf e Galadriel. Mas uma coisa é certa, ao enfrentarem Sauron todas passam por uma iniciação: Galdalf o cinzento renasce como o Branco após derrotar o Balrog (demónio da mesma linhagem de Sauron), Galadriel após recusar o anel de Frodo ganha permissão para regressar do seu seu exílio, e Frodo… como todos os outros, nunca será mais o mesmo.
Ver (ou rever) estas histórias à luz da Astrologia é um extraordinário exercício de compreensão da psique humana.
Bons filmes!
Ver (ou rever) estas histórias à luz da Astrologia é um extraordinário exercício de compreensão da psique humana.
Bons filmes!
Jorge Lancinha
Julho 2013