Com 2017 já bem engrenado chegamos a Fevereiro e o crescendo faz-se sentir naquele que parece ser o mês mais desafiante do ano. As noticias não param de fazer escalar receios, a polarização das opiniões atinge extremos cada vez mais afastados da reconciliação e a indignação parece ser o modo por defeito.
Nos céus, a tensão entre Júpiter, Úrano e Plutão encaminha-se para o seu auge no final deste mês. Este é um imenso barril de pólvora que tem vindo a acumular pressões explosivas ao longo dos últimos anos e, cada vez mais, as vozes moderadas acabam em surdina no coro das multidões que desejam acender o pavio. Uns por que desejam beneficiar do caos, outros porque sentem não ter já nada a perder e outros ainda, talvez a maioria, por simplesmente não aguentarem a tremenda pressão. É realmente um momento de teste, aquele que estamos a passar, e que terá repercussões pelas décadas vindouras. A onda de separatismo ameaça pôr em causa as uniões que foram conseguidas com grande esforço, mas é também evidente que o status quo tem de mudar, gordo que está das desigualdades que foi abrigando na sua sombra. O mundo está grávido de mudança e as contracções do parto marcam o ritmo dos dias em compasso acelerado. O que daqui irá nascer dependerá da resposta que cada um de nós consiga dar a este desafio colectivo.
No ano passado confrontámo-nos com eventos de grande magnitude no que respeita às suas consequências, sendo os principais o Brexit e a eleição de Trump. Eventos que no inicio do ano passado pareciam pouco prováveis e até absurdos, mas que vieram mostrar que o desejo de mudança é superior ao risco do desconhecido. Quando assim é, estamos claramente num ponto de clivagem. Este ano teremos mais decisões importantes, com as eleições na França em Abril e na Alemanha em Setembro. No entanto, é agora que está na forja, ainda moldável, o que mais tarde ganhará forma definitiva. Vejamos então o céu do momento em busca de linhas orientadoras para este período de grande desafio.
27 FEVEREIRO 2017
A configuração predominante é a quadratura T, de que já falei, entre Júpiter, Úrano e Plutão: Júpiter opõe-se a Úrano e Plutão faz 90º a ambos. Nesta oposição vemos de um lado os valores do diálogo e da diplomacia e do outro a força rebelde que deseja emancipação e liberdade de afirmação individual. A desestabilizar este braço de ferro temos o puxão de Plutão a desenterrar podres, a expor agendas ocultas, a mostrar que o poder se joga na sombra, debaixo do pano. Será pelo dia 22 que esta configuração estará mais activa, devido à passagem de Marte em quadratura a Plutão e depois colando-se a Úrano no dia 27 e opondo-se a Júpiter em perfeito alinhamento nos 22º. O que é interessante notar é que Éris, um novo planeta descoberto em 2005 e nomeado com a deusa da discórdia, está precisamente no mesmo grau 22º de Carneiro, ao qual, no dia 27, se juntarão Marte e Úrano.
Ao olharmos para a mitologia de Éris verificamos o quão reveladora é do que se passa à nossa volta. Éris, indesejada, não foi convidada para o casamento do rei Peleu com a ninfa Tétis, e por despeito vingou-se lançando junto de 3 deusas rivais (Hera, Atena e Afrodite) uma maça de ouro com a inscrição: para a mais bela. A competição que daí surgiu acabou por desencadear a Guerra de Tróia.
Este mito traz-nos uma advertência muito valiosa para o momento presente. É penoso assistir a todo o ódio, o racismo, o sexismo, a intolerância e a crueldade que têm surgido à superfície nos últimos tempos. Algo que, ao procuramos combater e transformar, acabamos facilmente por cair na tendência para excluir o que consideramos inaceitável e perigoso, para tentar calar a ignorância, ridicularizar, parodiar, descredibilizar, deslegitimar como arma de luta. Desde logo, no caso de Trump é muito evidente isto. Só para dar um exemplo, ontem, John Bercow, Presidente da Camara dos Comuns do Reino Unido, surpreendeu os membros do parlamento ao sair do seu registo neutral e afirmar num discurso que seria contra um convite a Trump para este discursar no Parlamento aquando da sua visita ao Reino Unido. Não querendo fazer aqui nenhuma análise política, esta tem sido a estratégia mais comum para lidar com o que não concordamos: não te convido para a minha festa! Mas como mostra bem o mito de Éris, excluir pode ter consequências mais nefastas do que procurar integrar. Para falar do caso de Trump, não podemos esquecer que este representa cerca de 63 milhões de votos, tendo prometido em campanha aquilo que tem estado a implementar. Trata-se de metade dos votantes do país mais poderoso do mundo que desejam este tipo de políticas e é essa a verdadeira questão que nos deve profundamente preocupar, pois o que se passa nos EUA em grande medida passa-se também na Europa. Com Júpiter a ficar retrógrado dia 6, a proposta é fazermos uma reflexão profunda acerca dos valores pelos quais pautamos as nossas acções. Talvez fique mais claro que é preciso mudar de estratégia para não cair no mesmo erro daquilo que queremos transformar: descriminar para combater a descriminação, não deixar falar para combater a liberdade de expressão, destruir para combater a destruição… Teremos também dois eclipses neste mês, um lunar no dia 11, a 22º de Leão (visível em Portugal e no Brasil), e o outro solar, no dia 26, a 8º de Peixes (este será parcialmente visível no sul do Brasil). Estes eclipses contribuirão para o convite à mudança que este mês nos estende. É em períodos destes que residem as grandes oportunidades de tomada de consciência. Faço votos para que nestes tempos desafiantes possamos manter o alinhamento à nossa essência divina sem recear reconhecer e integrar com compaixão tudo aquilo que faz de nós humanos.
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May 2018
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