Agosto é o mês do Leão, altura em que o Sol atravessa este signo, no qual encontra a sua máxima expressão de brilho e poder. Este ano em particular iremos ter duas Luas Novas em Leão, o que potencia os temas com ele relacionados: o poder criativo individual, a liderança carismática, a espontaneidade e a autenticidade.
Uma destas Luas Novas é também um poderoso eclipse, aguardado com muita expectativa, e que constitui um dos principais eventos astrológicos deste mês, se não mesmo de todo o ano de 2017. A importância deste eclipse deve-se ao facto de a sua sombra atravessar, precisamente de uma ponta a outra, os Estados Unidos da América - a super-potência que lidera o mundo.
Como se isto não bastasse para por ao rubro este mês, nesta travessia por Leão, o Sol é acompanhado bem de perto, em todo o percurso, pelo planeta Marte, criando um tremendo ênfase em questões de afirmação e assertividade.
Ao longo de Agosto temos também mudanças de direcção muito significativas: Úrano vira retrógrado e Saturno fica directo. Com isto poderemos esperar um reforço do poder instituído em detrimento da liberdade individual, o que poderá dar origem a um período de maior contestação que provavelmente será correspondida com mais repressão... Contudo, inicia-se uma fase favorável à estruturação e à concretização, sobretudo a partir de dia 25.
Outra mudança de direcção que teremos este mês, é o tão familiar Mercúrio retrógrado, com o seu conhecido potencial para complicar o desenrolar do dia-a-dia, e que começará a andar para trás no dia 13 de Agosto, voltando a ficar directo já só a 6 de Setembro. Com tudo isto, Agosto apresenta-se bem carregado de desafios e possibilidades, estabelecendo-se como um marco importante no percurso deste ano. Analisando mais aprofundadamente o eclipse de 21 de Agosto, e à luz da conjuntura e dos acontecimentos recentes, fica evidente a extrema importância simbólica deste evento cósmico. Autores que se têm dedicado ao estudo astrológico dos eclipses, como Bill Meridian, indicam que os eclipses podem ter um abrangente prazo de manifestação, chegando por vezes a 1 ano antes e depois do dia do fenómeno astronómico. Tendo em conta esse espectro temporal e o facto que já referenciei, da sombra total deste eclipse se projectar exclusivamente sobre os EUA e atravessar o seu território de costa a costa (algo que não acontecia desde 1918), podemos associar o seu simbolismo aos acontecimentos políticos dos últimos tempos, nomeadamente à eleição de Trump. Como este eclipse acontece em Leão, o signo da liderança, torna-o ainda mais focado sobre a figura do presidente (que nem por acaso tem Ascendente Leão) e o papel de liderança que os EUA têm actualmente no mundo. E é já há muito evidente que estamos perante um enfraquecimento sem precedentes desta liderança, que tem aberto espaço para que outros poderes se afirmem, procurando aproveitar o espaço vazio. É um verdadeiro eclipsar dos EUA, de origem interna, através da eleição de um líder claramente desadequado para o cargo e que está precisamente agora a sofrer o maior teste à sua presidência até ao momento, com as sucessivas crises diplomáticas internacionais e a onda de contestação interna devido ao empoderamento de forças radicais anti-democráticas e opressivas, que expõem a nú a retórica dos EUA como a nação guardiã dos valores da liberdade e da democracia.
Este eclipse revela assim a sombra que se esconde por detrás da fachada luminosa e que precisa ser enfrentada e integrada. É um momento de extrema importância a nível colectivo, pois nenhuma outra sociedade, além da dos EUA, está actualmente em condições de fazer avançar o projecto humano em consonância com valores progressivos, de liberdade e de inclusão (a Europa poderia afirmar-se como alternativa mas tem falhado repetidamente em superar nacionalismos e regionalismos políticos e culturais).
O momento histórico que atravessamos acarreta muitos riscos, pois sempre que uma ordem estabelecida é posta em causa, libertam-se forças muito poderosas, que tanto podem ser usadas para alavancar a mudança rumo a algo melhor, ou espiralar em conflito e destruição, como infelizmente tantas vezes aconteceu no passado. Assim, podemos também olhar para este eclipse como um grande teste colectivo, e a parada é elevada. A escalada de tensão a que temos assistido entre a Coreia do Norte e os EUA está bem no centro de todo este processo, e poderá dar origem a uma tão necessária mudança interna nos EUA ou, no pior dos cenários, a um conflito aberto, que terá consequências gravíssimas a nível mundial.
A Astrologia deste eclipse revela símbolos muito claros da importância deste momento. Comecemos por ver o mapa dos EUA, em que o eclipse se opõe à Lua natal do país: aqui vemos a dissociação que precisa ser integrada, entre o ego-centrismo pseudo-heroico da ideia de liderança à cowboy e os valores de liberdade, igualdade e democracia que estão na raiz da nação norte-americana.
Por sua vez o mapa de Trump encaixa na perfeição neste papel do líder que necessita ser transformado: o eclipse acontecerá conjunto ao seu Marte natal e, se esta hora de nascimento está correcta, mesmo em cima do seu Ascendente (alguns autores têm usado uma hora alternativa que muda ligeiramente o Ascendente). Uma coisa é evidente: ele não consegue conter a sua impulssividade reactiva e incendiária... Por mais esforço que faça para tentar ser diplomático, o bully leva sempre a melhor estragando tudo. Vemos também no mapa natal da Coreia do Norte a importância deste eclipse, que recai mesmo em cima do Saturno do país, assinalando que este é um momento de teste à autoridade e à consistência do poder instituído. Está portanto muita coisa em jogo de ambos os lados.
Olhando para a astrocartografia do eclipse, que nos permite analisar o seu impacto a nível geográfico, encontramos esta sincronicidade incrível: a linha de Marte no mapa geodésico do eclipse passa bem perto de Guam! Não quero com isto implicar de forma alguma que haja um ataque a este território, mas indica que, como de facto estamos a assistir, toda esta região está no palco central das tensões e confirma a importância desta ameaça para o processo de transformação que globalmente estamos a atravessar.
Termino deixando uma nota acerca de Portugal, que também se encontra ligado a este eclipse, uma vez que o mesmo faz oposição exacta ao Quíron natal da República. Este centauro que orbita entre Saturno e Úrano, está associado às feridas inerentes ao processo de expansão da consciência: algures no nosso caminho somos surpreendidos por acidentes de percurso - acontecimentos que nos ferem injustamente, assim como Quíron, um ser iluminado e altruísta, que é ferido inadvertidamente por uma seta envenenada. Neste verão temos assistido a muitas manifestações destas feridas trágicas nas quais é difícil encontrar sentido. Mais do que a alienação no passa culpas ou a regressão no ressentimento, no mito Quíron mostra-nos como podemos superar a dor e alcançar a cura: através da aceitação do que não podemos controlar, trazendo sentido às tragédias pela transformação que elas podem desencadear. Lembremo-nos da ostra, que da ferida faz a pérola.
Que possamos encontrar caminhos de Paz neste verão quente de Agosto!
0 Comments
Leave a Reply. |
Categorias
All
Arquivo
May 2018
|